Dar conselhos é um tema complicado. Às vezes parece simples: basta ter empatia, um bom coração e vontade de ajudar. Mas, será que isso é suficiente? Ao meu ver, definitivamente não. Quando alguém nos procura em busca de orientação, não quer apenas ouvir um desabafo solidário ou um comentário óbvio. Espera algo mais profundo, uma visão que clareie o que parece embaçado. E essa capacidade de oferecer o conselho certo não nasce só de boas intenções, mas sim de um conjunto de habilidades, percepções e experiência.
Dar um bom conselho exige estar em um degrau mais alto do que a pessoa que procura ajuda. Não um degrau de superioridade, mas um lugar onde você possa enxergar um pouco mais longe. Talvez você não seja o melhor conselheiro para todos os assuntos, mas, para aquele tema específico, você deve ter uma perspectiva mais clara, uma visão mais apurada, construída a partir de vivências e aprendizado. Caso contrário, você pode acabar sendo mais um a lançar opiniões vagas, que no fim das contas, mais confundem do que auxiliam.
Mais do Que Empatia: A Complexidade de Percepções
Empatia é essencial, claro. Se colocar no lugar do outro, sentir o que o outro sente, isso constrói o elo inicial de confiança. Mas, para dar conselhos que realmente façam a diferença, é preciso ir além. Não basta "imaginar" o que a pessoa está vivendo — é necessário enxergar a situação como um todo, com todas as nuances, e estar emocionalmente equilibrado para trazer clareza.
Outro ponto importante é que, ao oferecer um conselho, precisamos avaliar o que a pessoa está realmente preparada para enfrentar. De que adianta orientar alguém a tomar uma decisão que, embora pareça correta, é algo que ainda está fora do alcance emocional ou prático daquela pessoa? Dar conselhos exige saber quando falar, e até onde ir com aquilo que será dito. Esse discernimento evita que, ao invés de ajudar, você acabe sobrecarregando o outro com expectativas que ele ainda não pode cumprir.
Além disso, a forma como a mensagem é dada também é crucial. Nem todo mundo está pronto para ouvir uma verdade dura de forma direta. Algumas pessoas precisam de mais sutileza, de um tempo para processar as ideias antes de seguir em frente. Saber moldar a maneira como comunicamos um conselho é um sinal de respeito e de sensibilidade. Afinal, a comunicação assertiva não se baseia apenas em “dizer a verdade”, mas em como essa verdade é transmitida para que possa ser, de fato, absorvida e gerar transformação.
A maioria das pessoas dá conselhos como se fosse integrante de um time, sentindo a necessidade de estar de um lado, sem critérios. Não há observação de valores, nem reflexão sobre o que realmente seria o certo a fazer. A questão passa a ser “defender” um dos lados, mesmo que isso vá contra aquilo que se preza ou acredita. O que vemos, muitas vezes, são opiniões emocionadas e carregadas de paixões pessoais, que em nada ajudam quem procura clareza.
O Novo Fenômeno: Empáticos Querendo Ser Terapeutas
O que mais vejo hoje são pessoas empáticas tentando ocupar o lugar de terapeutas — e muitas vezes com uma capacidade ainda limitada e uma dificuldade enorme de manter a isenção. Claro, empatia é um ingrediente básico e fundamental para qualquer tipo de orientação ou terapia, mas está longe de ser suficiente. Um verdadeiro terapeuta, ou mesmo um bom conselheiro, precisa ser capaz de olhar a situação de fora, com um distanciamento respeitoso, analisando as emoções de quem está à sua frente sem deixar as próprias emoções tomarem conta.
Seja na terapia ou na orientação, a capacidade de manter essa isenção, de perceber os contextos sem se deixar levar, é o que permite que um conselho seja realmente útil. Um terapeuta que se conecta demais com a dor do paciente acaba por perder o discernimento necessário para conduzir o processo de forma equilibrada. Já um conselheiro que age apenas com base na própria experiência pessoal tende a trazer soluções que fazem sentido para ele, mas que não necessariamente ajudarão a outra pessoa.
Isenção para Dar Conselhos: O Ingrediente Fundamental
Outro ponto crucial é a isenção. Estar emocionalmente envolvido com o problema de quem pede o conselho é um grande risco. Nesses momentos, nossas próprias dores, expectativas e ansiedades acabam infiltrando a conversa, tornando-nos incapazes de ver a situação com a nitidez necessária. Já percebeu como às vezes é mais fácil aconselhar um desconhecido do que um amigo íntimo? É que a falta de vínculo emocional nos permite ver o todo com mais clareza.
Dar conselhos sem isenção é como tentar apagar um fogo com gasolina — suas próprias emoções acabam contaminando a situação. E é aí que surge o perigo de projetar no outro os nossos próprios medos, frustrações ou desejos.
Se você passou por algo semelhante ao que a pessoa está vivendo, cuidado redobrado. Não que a experiência não tenha valor, mas há uma linha tênue entre usar sua vivência para guiar e usar sua experiência para impor um caminho. Quando nos identificamos demais com o problema alheio, perdemos a neutralidade. E, sem neutralidade, dificilmente ofereceremos um conselho que de fato ajude. Lembrando que isenção total é quase impossível, mas estar ciente dessa tendência já ajuda a minimizar interferências.
Visão de Futuro e Consequências
Dar conselhos requer, muitas vezes, um toque de visão de futuro. Não é só se concentrar no problema atual, mas entender como aquilo vai reverberar nos próximos passos. A pessoa que pede conselho está focada em um ponto específico, uma dor imediata. O bom conselheiro deve ser capaz de levantar a cabeça e olhar além, visualizando os impactos das decisões e ações no tempo.
Imagine alguém que se sinta infeliz no trabalho e, em um impulso, decide largar tudo. Um conselheiro sem a capacidade de observar as consequências poderia simplesmente dizer: “Siga seu coração!” Mas será que é só isso? E os compromissos financeiros? E o impacto emocional de não saber qual será o próximo passo? Quais alternativas existem e o que ainda pode estar faltando para que aquela decisão possa ser seguida? O verdadeiro conselheiro tem a capacidade de antecipar os cenários possíveis e ajudar a outra pessoa a refletir sobre eles. Esse olhar para o futuro, mesmo que incerto, é o que diferencia um conselho bem pensado de um palpite superficial.
O Protocolo Amoris: Uma Nova Forma de Olhar Para Si Mesmo e Para os Outros
Se queremos nos tornar conselheiros ou terapeutas mais preparados e centrados, é necessário desenvolver maturidade emocional. E isso começa pelo autoconhecimento. Somente entendendo profundamente nossos próprios limites, medos e emoções, podemos estar presentes para o outro de maneira mais equilibrada.
Para quem deseja se aprofundar nesse processo, existe o Protocolo Amoris. Ele oferece um caminho de transformação pessoal por meio de áudios diários, guiando a um processo de autopercepção e desenvolvimento emocional. Com ele, você trabalha seus conteúdos internos, compreende melhor suas próprias dores e se torna capaz de manter uma postura mais isenta e segura ao lidar com as dores alheias.
O Protocolo Amoris não só ajuda a cultivar um amadurecimento emocional importante, mas também nos prepara para nos tornarmos melhores conselheiros e, quem sabe, terapeutas no futuro. Aqueles que conseguem apoiar e orientar sem deixar que as próprias emoções interfiram, mas que ainda assim agem com empatia e responsabilidade. É um convite para quem deseja estar mais preparado para fazer a diferença de forma genuína e consciente.
Reflexão Final
Dar conselhos não é para qualquer um. Não é só sobre se importar ou querer ajudar. É um ato de generosidade, sim, mas também de enorme responsabilidade. É se colocar à disposição, mas com consciência e equilíbrio. É estar pronto para aceitar que, muitas vezes, é melhor orientar alguém a buscar respostas dentro de si ou em outras fontes mais especializadas do que sair distribuindo orientações sem a devida preparação.
Por isso, da próxima vez que alguém te procurar pedindo um conselho, pergunte a si mesmo: “Eu realmente posso ver o todo e oferecer algo que fará a diferença?” Se sim, vá em frente, mas com respeito e atenção. Se não, seja sincero — o maior conselho que você pode dar é o de orientar essa pessoa a encontrar o caminho certo por si mesma.
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